EXÚ SEM MÁSCARAS

Exú / Bará
 
Olorun (O Criador) deu a vida ao seu primogênito, Obâtálâ (Oxalá), onde, mais tarde, também deu-lhe a incumbência de formar o mundo físico, material. Oxalá e todos os Orixás Funfun primordiais são os senhores da cor branca.
O segundo, foi Odùduwâ, igual em importância. O(a) senhor(a) da cor preta. Ambos foram criados de Sua própria essência. De seu hálito.
Veio o terceiro... Da lama primordial, da matéria confusa do Cosmos antes de ser ordenado, O Criador formou um montículo que se ergueu naquela matéria inerte. Assoprando-lhe, aquele rochedo avermelhado, de laterita, tornou-se vivo. Esse novo ser, essa divindade primordial participante da criação do plano físico (Imolê) dotou-se de muitos nomes por suas inúmeras qualidades. Criava-se ali Êxú Yangí (Exu da Laterita Vermelha), Êxú Âgbâ (Exu Ancestral) ou ainda Êxú Igbá Ketá (Exu da Terceira Cabaça ou o Terceiro Criado). O senhor da cor vermelha.
Nesses três primeiros Imolê(s) concentra-se todo o axé, todo o poder da Criação dado pelo próprio Deus Supremo. A cor branca, geradora, masculina de Oxalá e dos chamados Orixás Funfun chama-se Iwâ. A cor negra, de Odùduwâ, é Âbá. Símbolo da essência gestante feminina, do elemento sutil que dá composição à matéria, somando-se à branca. A cor vermelha é Âxé. O símbolo do elemento já criado, que faz a matéria não ficar suspensa, da eterna e contínua geração em processos evolutivos em todo o Universo. É a força, o poder dinamizador da própria vida, porque senão os demais elementos não passariam de simples matéria inerte, morta ou partículas dispersas no vácuo sem coesão...
Á nível cósmico o Orixá Êxú é onipresente em toda a Criação. Não há uma partícula, um átomo, um ser vivo, um planeta ou uma galáxia que não se mova sem a interferência dessa força, desse Orixá/Imolê, desse impulso que ele comanda. A Terra não giraria sobre seu próprio eixo nem em torno do Sol. As partículas elementares como os elétrons não correriam em torno do núcleo dos átomos, portanto a matéria não se agregaria. Não existiria a lei de atração e repulsão das moléculas. O espermatozóide não chegaria ao óvulo. A criança não teria força nem para nascer, nem para sua primeira lufada de ar. Nada teria forma. Sem Êxú tudo não passaria de matéria cósmica, poeira boiando no vácuo do Universo. Portanto, os três são complementares para tudo existir. Ou seja, sem Êxú não haveria Criação... 

O poder de Êxú não tem limites, só comparável ao próprio Criador, Olodumaré. Os africanos chamavam-no, desse modo, de Êxú Elégbará (Senhor do Poder Mágico), por todas essas atribuições.
Onipresente em toda a Criação... desde a partícula elementar às maiores galáxias. Para estar em toda a parte do Universo, Exú dotado de uma rapidez espantosa, podendo se locomover de uma parte a outra em uma fração de tempo inimaginável. Assim, esse Orixá passou a ser dotado também do poder e o controle da locomoção, da velocidade. E, concomitantemente, mensageiro do Criador, Imolês e Orixás. Esse poder tem uma representação: um cacetete mágico chamado ògo.
Exú possui uma intima ligaçao com Orunmilá (Orixá que comanda os jogos de adivinhação) que necessita ter pleno acesso junto a Êxú para saber o que se passa com aquele consulente, em todos os níveis do Ôrun ao Aiyé,  consultando os desígnios de Olorun e de todos os Orixás para saber quais oferendas seriam necessárias para ajudá-lo, quais remédios e ervas para curá-lo se estivesse doente, quais os recursos litúrgicos. Nessa infinidade de questões em uma fração de tempo infinitesimal dessa ida e vinda de respostas. Só Êxú è capaz de auxiliar Ôrunmìlá nessa tarefa. Nada no Universo é tão eficiente e rápido quanto ele.
Como mensageiro, cada Orixá possui o seu Êxú, servindo-lhe de auxiliar, trazendo e levando notícias ao Criador, levando suas vontades à Ôrunmìlá (para manifestar-se nos jogos de adivinhação), contando-lhes como estão e de que modo vivem seus filhos na terra, ouvir-lhes as preces e pedidos levando-os de volta aos outros Orixás, relatando-lhes tudo, somando-se em múltiplas atribuições. Nessa tarefa ele é conhecido como Êxú Enú Gbáríjo, a “Boca Coletiva dos Orixás” por trazer-lhes ou levar-lhes as mensagens. Para carregar as oferendas dos homens até seu destino junto ao Orixá, é invocado, por sua vez, como Êxú Elérù.
O próprio Criador também tem seu Êxú pessoal conhecido como Êxú Ôsíjê com a função de mover-se por toda a Criação, distribuindo suas ordens. Desse modo, Êxú também é o relator de Olodumaré, trazendo-lhe informações. Por onde o Criador toma conhecimento do que se passa no seu Universo.
Exú é também a personificação das leis regentes do Cosmos. Da ordem cósmica. Se ele faz movimentar e dar vida ao Universo harmonizando-o, é natural que todas as outras forças regentes da matéria estejam sob sua jurisdição. Êxú, portanto é também o grande organizador, o ordenador em um nível sem paralelos. Se o Céu está em cima e a Terra embaixo, é por obra de Êxú. Se os mares mantêm-se em equilíbrio sem invadir a terra, é por obra de Êxú. Os planetas em sua órbita. Tudo, absolutamente tudo está equilibrado pela sua força e seu poder. É nesse aspecto que Êxú é tão temido... como o grande regente da lei natural da ação e reação! Causa e efeito!
Êxú tambem aparece nos mitos como o aspecto punitivo aos homens quando esses cometem erros ou não cumprem os preceitos religiosos. Esse aspecto “punitivo” da natureza jamais dorme quando é ferido. Êxú também aparece como poderoso e temido até pelos próprios Orixás. Quando o indivíduo pensa que jamais será punido por suas más atitudes, lá vem o retorno de suas más ações de uma forma ou de outra. Lá vem Êxú. É tolo quem pensa que poderá enganá-lo! Como na Natureza, nem sempre a volta é rápida, imediata... mas um dia passa, o outro e lá vem o retorno inevitável: colhemos aquilo que plantamos!
Na verdade, Êxú não pune. Apenas faz valer o indefectível código natural. Mas, como lhe deram uma forma humanizada nos mitos, representaram-no malicioso, sutil, trapaceiro, vingativo. Porque a Natureza não fala, não avisa... o retorno sempre é lento, igualmente sutil e até malicioso ao desatento. Nos mitos, quando se pensa que tudo está em paz, esquecendo-se do resto, lá vem ele para testar as pessoas, disposto a mostrá-las como verdadeiramente são! Nesse aspecto como vingador, poderíamos chamar “negativo” do Orixá, ele é dito ebora. Nesse sentido, tudo o que existe, todo o Orixá seja ele qual for, também tem seu lado ebora.
Exú nunca encarnou como homem, nunca esteve entre nós com um corpo físico.
Para estar em toda a parte, simultaneamente, Êxú precisaria conhecer todos os caminhos possíveis e inimagináveis, já que caminha por todos eles. Indo de lado a lado do Universo até Olodumaré, trazendo e levando as mensagens dos Orixás em infinitas idas e vindas. Vemos então as estradas o símbolo físico desses caminhos. É na encruzilhada o foco de convergência de todos eles, o lugar de maior movimento. É nas estradas também que se exigia velocidade para chegar-se ao destino... enfim, nela encontravam-se todos os atributos dessa faceta do Orixá.
A entrada e saída das cidades, a passagem entre o dois mundos (Orun e Aiyê) e todas as portas em geral fazem parte seu domínio.
Hoje, em nossas cidades, os Bancos, supermercados, bares, encruzilhadas e trevos, aeroportos, estádios de futebol, ginásios, rodoviárias, Internet... todos esses locais são dominados pela força dinâmica de Êxú. Lá essa força primordial promove o crescimento, o progresso, a felicidade, a comunicação, a riqueza!
Como falamos, as encruzilhadas é o grande ponto de convergência. Na África eram-lhe consagradas aquelas que possuíam três caminhos. No mundo ocidental, o africano encontrou na figura do garfo de três pontas (o tridente) sua representação simbólica.
Se um grupo, uma família ou uma pessoa estiver vivendo corretamente, de consciência tranqüila e com seus preceitos religiosos em dia, feitos para minimizar quaisquer problemas vindouros? A força de Êxú manifesta-se como positiva, represada, agradável, extraordinária. As despensas estarão cheias, porque aquela família saberá ser trabalhadora, econômica, correta para com terceiros, mantendo um pensamento positivo e com fé, enfim sabendo plantar para
colher. Nações inteiras serão beneficiadas quando seu povo é de índole boa. Bondade, em um sentido bem amplo, é qualidade abençoada por Êxú. Se ele é a personificação, a materialização da lei de ação e reação, é natural que ele faça voltar tudo aquilo que recebe, inclusive em oferendas. Por isso o africano tinha muitos cuidados em seu trato.
Êxú, personifica o movimento, o impulso primeiro, o aspecto germinativo (fecundador) na Natureza e do Cosmos. Olhando à sua volta, o africano assimilou que o símbolo de Êxú só poderia ser, em sua forma mais simples, o falo humano, ereto, potente. Todos os elementos referentes a esse Orixá lembrão sempre uma forma fálica ou mesmo um falo, incluindo-se aqui seu bastão mágico, o ògo, que o transporta a todos os lugares ou traz-lhe objetos de volta, como uma varinha mágica dos contos europeus. O próprio montículo de onde surgiu, em forma cônica, lembra também um órgão masculino.

Qualidades/Hierarquia
Abá Yangui – Ancestral da Pedra Vermelha (montículo de laterita em brasa). Exu matriz. Energia primordial. O primeiro, foi dividido em varias partes segundo os seus mitos. Abá é um epíteto referente à sua antiguidade. 


Odará Ôsíjê – Exú da cor branca, pertence á Olorun, proporciona miuta paz e elevação espiritual, pois este não está mais transitando caoticamente.
Enubáríjo – Boca coletiva dos Orixás. Nessa forma Exu passa a falar em nome de todos os orixás.
Eleru Elebô – Transportador das oferendas e dos carregos. Deve ser invocado sempre antes de arriar uma oferenda e no montendo de despacha-la, tambem não deve ser esquecido nos ebós de descarrego.
Alaketu – Exú  Rei da Nação de Ketu.
Olôbé – Senhor da faca.
Nenhum dos Imolês citados a cima são virantes. Não incorporam.
Bará – Exú do corpo/ligação/atividade. Título que recebe os Imolês responsáveis pela ligação dos Orixás com o seus filhos (elegun) possibilitando sua atividade no Aiyê (Terra, plano físico). Todo Orixá tem o seu Bará e é este quem o traz do plano divino até o nosso corpo. Se Bará não for devidamente ofertado esta ligação e atividade ficará comprometida. O Bará come tudo que seu Orixá Guia come, só que torrado e assado no dendê temperado com cebola picada e pimenta no ponto certo (nem muita nem pouca, a depender do Orixá)
.Bará Okotô - simbolizado pela espiral formada pela casca do caracol, símbolo iorubá do infinito. Possui ligação com os Orixas Funfun.
.Bará Lonã - Senhor dos camilhos
.Bará Tiriri – Possui ligação com os metáis, estradas e matas.
.Bará Buyá – Possui ligação com a caça e as matas.
.Bará Iná – Invocado na cerimónia do Ipade regulamentando o ritual.
.Bará Onãn – Referencia  aos bons caminhos
.Bará Ajonã – tinha  o seu culto forte na antiga região Ijesa.
.Bará Malekê – O mesmo citado acima.
.Bará Lodô – Senhor dos rios, função delicada, dado a conflitos de elementos.
.Bará Lokô - Assexuado nessa fase tende ao masculino simbolizando virilidade e procriação.
.Bará Oguiri Oko – Ligado  aos caçadores e ao culto de Orumila-Ifa.
.Bará Eledú – Estabelece o seu poder sobre as cinzas, carvão e tudo que foi petrificado.
.Bará Worô – Vem da cidade do mesmo nome. Possui ligação com os ventos.
.Bará Marabô - Aspecto  de Exu que cumpre o papel de protetor Ma=verdadeiramente, Ra=envolver, bo=guardião. Possui ligaçao com os mares.
Bará Xeroquê – Possui ligação com as encruzilhadas e estradas.
Bará Salú – Possui ligação com a palha do dendezeiro.
Independente das ligações acima citadas Exús da nação de Ketu podem dar preferencia a quaisquer um dos nomes intitulados como Bará, para assim serem chamados. Quem vai dizer o nome daquele determinado Exu é o jogo de buzios. Escolhe-se o que cair mais positivo.